terça-feira, 19 de maio de 2009


Hamburgo, Alemanha

Entrevistei a minha tia, Rosalina Sequeira, nascida em 1944, que emigrou em 1967.

1. Que idade tinha quando emigrou?
Tinha 23 anos.
2. Qual foi o país para onde emigrou?
Fui para a Alemanha, mais propriamente para os arredores da cidade de Hamburgo. Fui de comboio, demorei um dia e uma noite. O meu marido já trabalhava na fábrica há mais de um ano e como precisavam de pessoal, fizeram-me um contrato de um ano. Estive na Alemanha cerca de um ano na fábrica de pneus Phonycs.
Gostei muito de lá trabalhar. Era um país muito organizado, muito diferente de Portugal. Os espaços comerciais que agora existem em Castelo Branco, como por exemplo o fórum, com escadas rolantes, já existiam na Alemanha há 40 anos atrás quando lá cheguei.
As ruas eram muito limpas, o ensino já era obrigatório, a assistência médica era muito boa e as mulheres já trabalhavam nas fábricas ao lado dos homens. O que mais estranhei foi a língua e a falta de portugueses.
Todos os anos no mês de Abril a produção baixava e havia sempre pouco trabalho e como o meu marido já estava desempregado, emigrámos para França.
Na França, morava a cerca de 15 quilómetros de Paris, mais propriamente em Orly junto ao Aeroporto Internacional. Comecei a trabalhar numa Clínica, num Centro de Reeducação Física, na parte da cantina. Trabalhei lá cerca de 29 anos, 8 horas por dia. Levantava-me todos os dias às 5 da manhã para entrar no trabalho às 6. No princípio ia a pé para o trabalho, que ficava a 3 quilómetros de casa, depois comecei a ir de mota com o meu marido e muito mais tarde é que já ia de carro.
3. Quando chegou a França, que diferenças notou em relação a Portugal?
Na França já havia mais portugueses, muitos emigrantes. Era um país muito evoluído, à semelhança da Alemanha onde tinha estado antes. As pessoas eram mais livres que cá em Portugal. Viam-se as esplanadas cheias de gente, coisa que cá nem pensar. As mulheres trabalhavam fora de casa, As pessoas iam de férias, as praias estavam cheias de gente como as nossas agora, isto há 40 anos atrás.
4. Quais as razões que a levaram a emigrar?
O que me levou a emigrar foi para melhorar as minhas condições de vida e as da minha família. Na altura em que emigrei o câmbio era a nossa principal preocupação. O franco valia muito mais que o escudo e era um regalo quando se cambiava o dinheiro.
5. Quais foram os momentos que mais a marcaram nesse país?
O que mais me marcou foi a distância da família, a ausência e o não poder vir quando queria, por vezes sentia-me presa. Ficava angustiada quando recebia más notícias de Portugal.
6. Que motivos a levaram a regressar?
Regressei em 1997 porque o meu marido ficou sem trabalho e já estávamos a entrar numa idade...
7. De uma maneira geral, qual é a sua opinião sobre a emigração?
Eu gostei muito de estar emigrada porque sempre trabalhei num sítio que gostava e onde gostavam de mim. Foi bom porque consegui ter coisas que cá nunca conseguia.
8. Nos dias de hoje, aconselhava algum familiar a emigrar? Porquê?
Depende do que fosse fazer e do país para onde fosse. Se fosse para onde eu fui, hoje a moeda é a mesma, talvez não valesse a pena, hoje a crise e o desemprego é geral.
9. Sente saudades desses tempos?
Sim, sinto saudades. Mas o que ainda hoje estranho cá são os cuidados de saúde. As regalias lá na França eram muitas. A segurança que nós chamávamos Mutuelle, pagava todas as despesas de saúde.




Paris, França

Mariana Sequeira